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Mesmo atendendo facções de Salvador, advogada criminalista ressalta: “Não sou funcionária deles”

O Bahia 190 conversou com Rebeca Matos, que falou detalhes de como funciona o serviço de uma defesa no âmbito criminal

Mesmo atendendo facções de Salvador, advogada criminalista ressalta: “Não sou funcionária deles”
Foto ilustrativa

Lidar com casos em que a sociedade condena não é nada fácil, mas como será que é a vida de uma advogada criminalista na hora de defender seu cliente? O Bahia 190 conversou com Rebeca Matos que falou detalhes de como funciona o serviço de uma defesa no âmbito criminal.

“O advogado criminalista pode atuar em ambas as partes, ele pode ser de assistente de acusação e pode ser defesa. E tem alguns casos que é de ação pública condicionada, ou seja, depende da vontade da pessoa que pode atuar também no interesse da vítima. O criminalista não apenas defende o réu, mas também os interesses da vítima”, disse.

Rebeca salientou que, no caso dela, pessoalmente, não tem nenhum interesse em advogar casos contra menores, como abuso sexual e crime contra qualquer criança, adolescente ou mulheres. Além disso, questionada sobre o tipo de crime que mais atende, a advogada logo respondeu: tráfico de drogas que desencadeia em organizações criminosas.

“No meu escritório atendemos qualquer área do direito criminal, mas os grandes ramos de atuação é com organizações criminosas (…) eu, pessoalmente, não me sinto à vontade para fazer processos de alguns temas, como estupro e crime contra menor. A gente atua nesses crimes, mas como assistente de acusação. Se tem um crime contra o menor, eu normalmente estou atuando em defesa do menor”, afirmou.

“Como meu escritório é composto de uma equipe, o pessoal tem liberdade de atuação. Eu tenho a visão de que para eu defender qualquer pessoa, preciso acreditar ou me convencer de alguma coisa pra que eu convença o outro. Se eu não consigo me convencer, não vou convencer ninguém. Eu como mãe e mulher, não me sinto a vontade de estar defendendo esses casos”, completou.

Ao Bahia 190, Rebeca Matos contou que atende casos de todas as facções de Salvador. A advogada também deixou claro que não tem nenhum vínculo com nenhuma dessas organizações criminosas.

“Hoje nós atendemos todas as organizações criminosas de Salvador, e eu não sou vinculada com nenhum deles. Eu advogo para a pessoa, meu contrato é com a pessoa física, eu não sou funcionária de facção. Eu não tenho exclusividade nenhuma com nenhum tipo de organização criminosa, mas, claro, que em processos onde há conflito nas defesas eu não posso atuar, sou proibida pelo meu código de ética porque eu tenho informações privilegiadas e isso é de pessoa para pessoa, não tem nada a ver com a organização criminosa”, explicou ao B190.

A profissional explica que apesar de não ter ligação com facções, muitos clientes preferem contratar advogados para defendê-lo com exclusividade. “Existe essa de segurança, porque a advocacia também é uma questão de confiança”, afirmou.

Quando precisou responder sobre a maior dificuldade enfrentada pelos advogados criminalistas, Rebeca não precisou pensar muito. De imediato ela afirmou: “Preconceito. O advogado criminalista é muito mal visto. A imprensa massacra muito, diz que está recebendo dinheiro sujo, e eu, enquanto mulher, sofro mais preconceito ainda. Já ouvi cliente até falando ‘Doutora, a senhora acha que, sendo mulher, é capaz de fazer a defesa?’. É muito enraizado. Pra se firmar na área, se impor, é complicado. Se você vai no presídio, o cliente olha para você e diz ‘é você que vai me defender? Com essa cara de menina?’. Então, a gente sofre muito preconceito, as autoridades policiais não gostam de advogado, o tratamento em delegacias são desumanos, são muito desrespeitosos, parece que fazemos parte da organização criminosa”, desabafou.

Críticas a alguns novos grupos de advogados também foram feitas. “Tem uma galerinha que tem mania de prometer. O advogado é profissional de meio e não de fim. Eu tenho como garantir ao meu cliente o meu trabalho, mas não posso garantir resultado, porque o resultado depende do juiz. Quem decide é o juiz, não sou eu. Às vezes ele está com um entendimento e depois ele muda. O juiz não vai responder naquele prazo. Tenho que garantir meu serviço, mas não o do outro”, finalizou.

O Bahia 190 aproveitou para perguntar sobre um dos seus principais clientes no momento, Washington David Santos da Silva, o ‘Boca Mole’. “Washington [Boca Mole] não teve audiência de custódia, ele era procurado pela Justiça baiana e tinha uma preventiva de homicídio. No momento, ele está à disposição tanto da justiça baiana quanto do Ceará, agora é aguardar”.


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