“Eles estão te vendo”: Facções ainda ditam normas e espalham medo em Valéria
Uma das entrevistadas classificou a ocupação policial como algo “planejado”
Por Redação
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Foto: Reprodução/Varela Net
“Toma cuidado. Vocês não estão vendo eles, mas eles estão te vendo”, foi a frase dita por um dos moradores do bairro de Valéria quando dois jornalistas do Varela Net estiveram na entrada da localidade conhecida como Sossego, que de sossegada, não tem nada.
O medo dos moradores e comerciantes é pouco visto no bairro, mas a revolta é clara. Desde o ano passado, as facções criminosas BDM (Bonde de Maluco) e Katiara travam uma guerra para conseguir dominar Valéria e o local chegou a ser “ocupado” pela polícia que, com um clima mais calmo, foi embora. Segundo alguns moradores, a polícia nunca vai no local de fato onde o crime está.
Hoje, com o retorno dessa ‘batalha’ entre as organizações criminosas, a polícia voltou a prometer o combate desses grupos, mas a presença dos agentes pouca muda a situação, de acordo com os que vivem e trabalham no bairro.
Na semana passada, a Delegada Geral da Polícia Civil, Heloisa Brito, chegou a dizer que os crimes ocorridos na região “diminuíram um pouco” em razão de ações policiais feitas anteriormente. Contudo, afirmou não pretender ocupar a localidade, assim como a polícia fez no Complexo do Nordeste de Amaralina em novembro de 2020.
“Em princípio, nós não pensamos nisso porque nós entendemos que em razão da topografia, das peculiaridades de Valéria, demanda uma complexidade maior nessa área, tem a parte da mata e isso fica mais complexo”, disse a Delegada.
Uma das entrevistadas classificou a ocupação policial como algo “planejado”. Para ela, os policiais se fixam em locais tranquilos, onde não há registro de crimes. “Teve ocupação, mas parece algo planejado. Eles vão em lugares que não tem nada”, disse, sem se identificar.
A moradora ainda afirma que não vê diferença no bairro em relação à criminalidade, mesmo com a chegada da polícia. Segundo ela, as viaturas “passam igual a foguete”, sem vistoria. “Criminalidade é a mesma coisa, não mudou nada. A polícia vem e eles recuam, quando a polícia vai embora, eles voltam”.
“Vejo uns meninos passeando com arma na mão, polindo pistola nas ruas. Meu irmão morava em Nova Brasília [de Valéria] com meus sobrinhos. Eles tiveram que se mudar por causa da criminalidade. O Uber quando pego, tenho que avisar que não pode entrar em algumas ruas”, conta a comerciante e moradora do bairro.
Questionada sobre as localidades mais perigosas da região, prontamente a vendedora responde “Sossego e Penacho”. Ela ainda diz que existem diversos registros de homens armados na localidade conhecida como Rua das Palmeiras, ou ‘Lavrador’. Já outros, informaram que estão acostumados com os frequentes tiroteios.
Além disso, a comerciante comentou sobre as facções criminosas do local, BDM e Katiara, e afirmou que a primeira é a que, aparentemente, possui maior domínio do bairro hoje em dia, ocupando a Rua da Matriz, que é a via principal da região, e o Sossego. Já o segundo grupo citado, ocupa a Nova Brasília de Valéria. Ela não soube, contudo, especificar quais as outras regiões dominadas por cada facção.
Outra denunciante tem praticamente o mesmo discurso quando se fala da polícia no local. “Não acho que a polícia ocupou de fato o bairro. Ela tem passado por aqui, mas não acho que tem enfrentado [o crime]. Eles aparecerem depois que acontecem os atos criminosos”, diz.
Ela ainda explica que os criminosos da região do Penacho e de Nova Brasília de Valéria são unidos, porém, os confrontos se iniciam com a ‘invasão’ de traficantes do Sossego. A situação do bairro claramente afeta a mulher, que também é comerciante e relatou sofrer com a criminalidade, que conforme aumenta, diminui suas vendas. “Acho que é uma grande vergonha para o nosso bairro. Aqui antigamente era tido como interior. As pessoas que moram na localidade onde acontecem esse tipo de coisa ficam receosas de sair de casa, então o movimento na rua fica afetado”, explica.
Outra vendedora relatou sua dificuldade com as vendas em alguns momentos, quando há tiroteios, mortes ou assaltos por perto. “Durante o dia as pessoas não saem por medo da criminalidade. Tem cliente que tem moto e carro, mas prefere pagar a entrega do meu produto”.
Os comerciantes da via principal do bairro de Valéria, na Rua da Matriz, aparentam maior tranquilidade e alegam que o local de trabalho é mais pacifico e seguro. Contudo, em meio aos elogios, relataram 3 mortes e um assalto ocorrido em locais próximos nos últimos meses.
A Rua Santa Helena, onde ocorreu um duplo homicídio a jovens de 26 anos que trabalhavam em um Lava-Jato da região. O caso aconteceu no último dia 10. As vítimas foram identificadas como Carlos Ângelo Souza Santos e Douglas Henrique da Silva Borges. Não se tem informações se os dois eram envolvidos com o crime.
Já o outro crime se tratou da morte de uma operadora de caixa, que foi morta durante uma troca de tiros, enquanto trabalhava em um mercadinho da Rua da Matriz. Outro estabelecimento foi assaltado, uma loja de roupas. Porém, a situação não chegou a ser noticiada. “A depender da época, tem muito assalto de dia. A loja aqui do lado, de roupas, foi assaltada. [O criminoso] entrou como se fosse cliente e assaltou”, conta um dos entrevistados.
Alguns moradores relataram que o toque de recolher acontece no bairro, quando algum líder de facção que domina a localidade vem a óbito. Já outros, informaram que estão acostumados com os frequentes tiroteios. A PM apenas respondeu que “o policiamento é realizado conforme a mancha criminal da região e que, em caso de suspeita de crimes que estejam ocorrendo, o cidadão deverá ligar para o 190 de modo que a PM mobilize uma equipe para o atendimento da demanda apresentada”.
“Ressaltamos que, em caso de crimes que já tenham ocorrido, é fundamental que se dirija à delegacia da área para o registro do fato, para fins de atualização dos dados disponíveis e melhor planejamento das ações a serem desencadeadas”, finaliza, em nota.
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