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‘Fogo Cruzado’: Conheça o app que mostra tiroteios em tempo real; veja como usar

Bahia 190 conversou com diretora executiva do app

‘Fogo Cruzado’: Conheça o app que mostra tiroteios em tempo real; veja como usar
Foto: Reprodução/Helito Beggiora

Desde o início do mês de julho, o aplicativo ‘Fogo Cruzado’ já pode ser utilizado por usuários no estado da Bahia. A plataforma já existe desde 2016 no Rio de Janeiro e desde 2018 na Região Metropolitana de Recife.

A plataforma mapeia todos os casos de tiroteio e homicídios e o Bahia 190 procurou os criadores do Fogo Cruzado. Segundo eles, o aplicativo nasceu justamente da falta de informações sobre o assunto.

“O Fogo Cruzado nasceu da falta de informações. Muitas vezes víamos nos jornais a informação de que uma pessoa foi atingida por bala perdida. Mas parecia um caso isolado. Quantas eram? Onde há mais casos? Com que frequência isso acontece? Estas perguntas não tinham respostas, apesar de a gente saber que isso era muito comum no Rio, onde o Fogo Cruzado nasceu”, disse Cecília Oliveira, diretora executiva do Fogo Cruzado.

“Começamos a mapear todos esses casos e hoje sabemos que há, em média, 100 vítimas de bala perdida por ano. Um total absurdo. Sabemos também quantas crianças são baleadas, quantas chacinas acontecem… Estes dados antes não existiam. Como um governo pode fazer uma política para combater a violência sem estes dados? Hoje sabemos e podemos cobrar respostas, responsabilidades, melhores políticas”, completou.

O app, que já está disponível para o sistema iOS e, em breve, no Android, permite que os usuários ajustem o uso para receber alertas só de localidades que tenham interesse, como regiões próximas de onde ele esteja ou de todas as regiões do mapa.

As informações chegam ao Fogo Cruzado através do celular, onde o usuário pode enviar anonimamente uma notificação que inclui local, dia e horário aproximado do tiro.

Em seguida, parceiros do app que estão em várias cidades da região metropolitana adicionam às bases de dados as informações coletadas via imprensa e canais das autoridades policiais.

“Quando chega a notificação de um tiroteio ou disparo de arma de fogo, esta informação não é automaticamente publicada no mapa e nas redes sociais. Imediatamente, a equipe de gestão de dados cruza a notificação com filtros que desenvolvemos para as redes sociais e que nos permitem saber quem, quando, onde se está falando sobre disparos de arma de fogo na região metropolitana do Rio de Janeiro e Recife – e a partir de agora, Bahia. As informações incompletas, repetidas ou não confirmadas pela nossa equipe são descartadas”, afirmou Cecília.

Além disso, os criadores também informaram ao Bahia 190 que o estado da Bahia foi escolhido pelo fato de ter cinco cidades entre as 30 mais violentas do país, e também por ser o segundo estado mais violento do Brasil. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

“A Bahia também acumulou o maior número de mortes por arma de fogo entre 2004 e 2019 no Brasil e tem um dos maiores números de mortes decorrentes de intervenção policial do país. Somado a isso, há 8 facções disputando controle de áreas na Bahia, sem contar milícias e grupos de extermínio. E tem mais. A PRF registrou aumento de 290% na apreensão de pistolas entre 2019 e 2020 na Bahia. A situação fez com que o governador estipulasse, no fim de 2021, um prêmio em dinheiro para PMs que apreenderem armas. A demanda por armas no estado cresceu mais de 5 vezes. Esse cenário foi decisivo para tornar a Bahia uma meta de ação do Fogo Cruzado”, explica.

Somente na primeira semana, o Fogo Cruzado conseguiu mapear cerca de 20 tiroteios, 12 mortes e 10 feridos na capital baiana e Região Mertropolitana. Perguntada pelo Bahia 190 se a Secretária de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) utiliza do app para realizar o boletim diário de ocorrência, a diretoria diz não ter conhecimento, mas está aberta a conversas.

“Não temos ciência sobre a SSP utilizar ou não o aplicativo, mas estamos abertos ao diálogo. Nos estados em que já atuamos, nós trabalhamos com o Ministério Público e com a Defensoria, nossos dados compõem o MP em Mapas e já foram utilizados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP/RJ) e são base de leis no Rio. Isso é possível porque temos uma metodologia testada e histórica. A subnotificação é um problema constante na segurança pública. As pessoas têm medo de denunciar ou às vezes não tem tempo de ir na delegacia, por exemplo. Então, quanto mais informações tivermos, mais próximos da realidade estaremos. e assim, poderemos de fato construir soluções que sejam mais eficazes”, afirmou.


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